Levava consigo a espada cintilante mais cortante que já tomou posse, mas não havia motivação para viver. Duelar agora era apenas formalismo social. A alma amargurada já nem pensava no futuro: agora que pensou talvez fosse ser matador, espalharia a sua técnica na carne de infelizes e viveria até que alguém o superasse.
A luta começou! Espadas e sons de corte de ar e colisão de lâminas: nada incomum. Um momento de vantagem, outro de defesa: normal. De repente sangue escorria pelas mãos! Deve ter sido na hora em que pensou sobre sua vida de matador, sua errante vida sem objetivo próprio... Isso já ocorrera antes, agora é se levantar e surpreender o adversário com a lâmina da cintilante...
Não! Agora não dá! Algo o força ao chão. Empurra o chão com força mas força lhe falta. É o fim. Relembra as inúmeras vezes que passou por este momento, vendo o adversário sangrar na derrota: agora era sua vez! Nem pensou em olhar o rosto do vencedor; tentou procurar o olhar da dama que havia prematuramente lhe causado a morte, pois um homem sem objetivo não pode se sentir vivo.
Segurou a espada firme e, com a extremidade dela encravada no chão pôde se erguer como se arranjado um cajado improvisado. Viu a mulher: batia o vento naquele véu e o vestido todo sacudia. Acredito que o adversário temeu uma súbita reação do semi-morto, pois passou a lâmina como se em manteiga. A espada nem era tão boa, nem ele; mas era fria como nunca se havia visto em metal.
Assim foi melhor: era muito estúpida aquela idéia de se tornar um matador. Nunca teria coragem para matar sem objetivo do jeito necessário. E, além do mais, já estava morto no coração mesmo! A rejeição e o escândalo forçaram-lhe a duelar! Foi melhor!? Agora não importa mais; agora ele seguiria o destino que o casal lhe impusera: morte de corpo e alma!
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Um comentário:
É, hoje em dia não tem mais esta morte do corpo.Porém a da alma... morre, mas revive, pois o tempo a tudo cura.
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