10 dezembro 2009

Vida Solta

Lembro que, quando tinha 16 anos, eu entrei num desses bate papos da internet e fiquei tentando puxar assunto com todo tipo de gente, meninas, garotos; alguém com quem pudesse passar o tempo brincando e descobrindo o mundo internético. Acho que era a época que o mIrc estava em alta, mas não tenho certeza. Eu não tinha computador, então provavelmente estava dormindo na casa de um primo quando passava a noite na internet: nunca paguei uma lan house.
O pessoal que frequentava não era muito de conversa com um menino novato. As garotas estavam todas sobrecarregadas e os caras doidos atrás de conversar com as meninas. Houveram duas ou três vezes que eu mesmo troquei meu nick para algo que se supunha fosse de uma garota e então os caras puxavam papinho besta. Eu adorava ficar zoando a cara deles: dizia que era uma menina assim, assada, loira, morena; era interessante ver a reação dos caras às paradinhas que eu dizia e a vontade deles de impressionar.
Um vez, no entanto, ocorreu um evento que me minha memória não deixou escapar com tanta facilidade: no tardar da noite sobrou numa sala eu e um cara que tinha 21 anos. Resolvemos conversar sobre mulher e tal, só que eu me achava altamente nerd e expus isto, enquanto o cara se achava o maior desenrolado e expôs isto também.
Ele dizia que já tinha feito muita doidera na vida dele, que já tinha raparigado demais e aproveitado a vida até demais da conta. Agora ele pretendia ficar quieto, a impressão que me deu é que ele estava namorando certinho com alguma mulher e estava satisfeito em levar aquela vida mansa pelo resto da vida dele, impressionado, talvez, consigo mesmo por estar gostando disto.
Eu dizia que nunca tinha namorado e que estava de molho por muito tempo já, mas que minha timidez me impedia de fazer algo para me tirar desta situação. O cara tentava me levantar com frases tipo "levantar a auto estima" ou "mulher procura homem seguro", etc. Acho, inclusive, que ele usou muito pouco o discurso de que "o tempo passa e não volta" que sempre assusta quem acha que está perdendo tempo na vida.
É interessante voltar a isto, pois cheguei a dizer a ele que pra mim casar e ter vida fixa era um plano muito distante, e que eu na idade dele iria começar a sair mais, a paquerar mais, ao menos esperava; eu aleguei que ele estava realmente muito novo para compromissos sérios. Ele riu e disse que já estava cansado da vida "solta", "tudo bem" - pensei.
Hoje eu tenho 24 anos. Minha vida não mudou muito do que era naquele tempo: continuo estudando, continuo altamente caseiro, solteiro a mais de um ano... Embora eu seja um cara que goste e tente estimular a mudança, sequer meu pensamento quanto isto mudou: continuo a pensar que ele era novo, que eu estava despreparado pra enfrentar a timidez e que na idade dele (que ele tinha) nunca se deveria pensar em casamento.
É verdade, porém, que a gente tem necessidade de se prender a alguém e se manter fixo; de se sentir necessário e amado e de pensar que sentem sua falta, quando não está. A esta necessidade muita gente reage encontrando novos amores, buscando livremente entre as faces e os corpos que erram em suas vidas, e eu mesmo já procurei assim. O tão antigo "amor inventado" de Cazuza...
Bem, embora eu gostaria muito de ter um amor pertinho de mim, o que não é o caso atualmente, vou vivendo como posso, rsrs. De vez em quando ainda penso mais que ajo, e reflito coisas que muitos evitam refletir; mas é da minha natureza fazer isto desde sempre. Eu gosto, e talvez sempre gostarei.

Nenhum comentário: