Imensidão Íntima

Largado no asfalto em baixo de estrelas
Mãos trêmulas entre as pernas molhadas
Mente solta, coração partido
Olhos vagos para a imensidão íntima.

Chove
Chuva clara e bem fina
Escorregam grãos líquidos por entre meus braços
Sem nuvens se mostra o céu, para sustentar meu delírio.

Cheira a vento.
O ar limpo lava minha alma e acordo
Levanto minha cabeça e não sei que decisão tomar
Acho, apenas, que posso permanecer ali curtindo o cheiro bom do nada.

O asfalto úmido e largo me dá noção de espaço
A iluminação escassa e os pontos flutuantes me dão noção de tempo
Minha carne dolorida me dá noção de energia
Um automóvel distante vindo em minha direção...

... Tenho noção de momento!
Me levanto em minha imaginação
Dou passos em sua direção e você vem
Como se nada tivesse acontecido

Nos jardins da felicidade eu olho para nós
Curtindo a vida despretensiosos
Ninguém imagina o que será de nós em breve
Ou daqui a pouco, quando tudo se for...

... Tenho noção de lamento!
Um automóvel vindo em minha direção
Volto a observar gotas correndo nos meus braços
Todas caem... Mas todas como se felizes.

Acho que estou errado
Acho que errei, comigo, com nós...
Isto é apenas a consequência, apenas a simples solução
De um problema simples.

Lembro da ciranda de criança
Relembro as formas belas que há na dança
Dos amigos, dos companheiros.
Acho que deles estava esquecido...

Acho que o sol está nascendo
Mais um dia está começando lindo...
Não há motivos para eu me entregar no chão, no lamento
Acho que agora sim: tenho noção de momento.

Reuno as poucas forças que me restam e tento levantar
Ainda não é suficiente, mas tenho a vontade de romper com o asfalto
Sair e escorrer, como as gotas, pelas ladeiras da cidade
E não há nada de sol. Farol de carro, forte e impulsivo.

Triste com mais uma ilusão
Me assento na escuridão
Me apago por um segundo
Quase choro pelo destino.

Minha carne não dói tanto como antes
Acho que dá pra levantar.
Na noite infinda finalmente compreeendo
Quem faz a escuridão sou eu

Vou sair daqui.